Há momentos que nunca se esquecem. Há momentos que ficam na nossa cabeça para toda a vida e que rapidamente nos transportam para situações de grande felicidade. Para mim, muitos desses momentos estão ligados ao futebol.
Como Portista, nunca vou esquecer a vitória na Taça UEFA, contra o Celtic de Glasgow. E no ano seguinte, a vitória na Liga dos Campeões contra o Mónaco. Mas, também não vou esquecer quando a voltar de uma visita de estudo, eu e todos os meus colegas rezamos o Terço, como promessa pela vitória do FC Porto contra o Deportivo da Corunha.
Tínhamos prometido que se o Futebol Clube do Porto passasse a eliminatória todos nós rezaríamos o terço e assim foi. A equipa de Mourinho e em especial, o pé direito de Derlei, fez com que um grupo de miúdos trocasse os hits que tocavam na rádio por avé marias e pais nossos.
Mas na realidade, as minhas melhores memórias da bola, são aquelas em eu joguei futebol. Aquela sensação de plenitude. Em que nada existe a não ser eu, a bola e o campo. Esses são os momentos de que tenho mais saudades e em que penso, quando o trabalho e a ansiedade não me deixam dormir.
E o mais interessante é que esta minha paixão pelo jogo é bem atípica. Nem o meu pai, nem a minha mãe, nem o meu irmão são grandes apreciadores do jogo. Mas eu, desde muito pequena, vibro com uma bola nos pés.
E isso levou-me, em 2002, a convencer as melhores jogadoras da minha escola (7 no total) a participar na Taça Coca-Cola. No caminho, tive também que convencer o meu pai (que não gosta de futebol nem de qualquer desporto) a ser nosso treinador e também motorista. A competição aconteceu no campo de treinos do antigo Estádio das Antas e todo este dia foi memorável.
Ao sair de casa, a minha mãe pergunta ao meu pai “Faço almoço para vocês?” e o meu pai responde “Faz, lá para as 12.30h estamos em casa”. E assim, com este “voto de confiança” lá saímos de casa, bem cedo, para ir buscar as minhas colegas e seguirmos para o Porto.
Ao chegarmos, lembro-me de ficar maravilhada com o sítio. Tudo pronto para nos receber. Vários campos, muitas equipas e muito entusiasmo para ver como o dia se ia desenrolar.
Algumas notas importantes sobre este dia: Nós nunca tínhamos jogado juntas. Éramos da mesma idade, mas de turmas diferentes e a verdade é que nunca tínhamos sequer treinado juntas. Para além disso, com a excepção de uma de nós, também nunca realmente tínhamos sido treinadas. Gostávamos muito de jogar, passávamos provavelmente todos os intervalos a fazê-lo, mas nunca tínhamos tido ninguém a puxar por nós ou a explicar-nos a tática para o jogo.
Ainda assim decidimos arriscar.
E lá começou o primeiro jogo. E, nós, com sangue e muito suor e lágrimas, fomos avançando na competição. Jogamos contra boas e más equipas. Contra equipas a sério, com treinador, tática e equipamento e contra outras, tão ou mais amadoras do que nós.
E vem depois o segundo. E depois o terceiro. E depois o quarto. Perdemos jogadoras pelo caminho e a nossa equipa ficou reduzida a 5 elementos. Vimos o Mourinho, ainda ele não tinha ganho nada. E os planos para o almoço dos meus pais tiveram que ser adiados.
E 12 horas depois de termos saído de casa, estávamos na final da Taça Coca-Cola. Na final!! Inacreditável!!
Mal começamos a jogar, percebemos que estávamos a jogar contra uma equipa incrível e fomos dizimadas. O nosso sonho terminou ali. E já tarde, muito tarde, lá chegamos a casa para o jantar. Eu felicíssima e o meu pai, um treinador medalhado.
Passados 18 anos ainda sinto uma sensação de enorme felicidade ao pensar neste dia. E ainda mantenho o sonho, de um dia, voltar ao futebol.