14 de maio de 2011
Chegou o dia que eu queria mesmo que chegasse e ao mesmo tempo, evitar a todo o custo. Um dia de sentimentos contraditórios.
Eu jogava nos juniores do União Sport Clube de Paredes e, pela primeira vez na história do clube, vivíamos a oportunidade de disputar o campeonato nacional.
Era dia de vencer, de garantir a manutenção e fazer história. Havia alguma tensão é certo, mas estávamos confiantes. Acreditávamos...
Dizem muitas vezes que tudo na vida tem um mas e esta história não vive de uma exceção. Este jogo, que tinha tudo para ser tão feliz, era também o último no meu clube do coração. No clube que me viu crescer, onde conheci alguns dos meus melhores amigos. Este jogo marcava o fim de um ciclo. A partir daquele dia uma incógnita – o campeonato sénior. Os anos de formação fazem com que tomemos por certo o futebol na nossa vida, até chegar o momento em que ganhamos consciência de que a rotina de praticamente todos os dias, não está garantida.
Tudo isto resultava numa combustão interna e eu lembro-me de estar no jogo e não estar. De participar ativamente naquilo tudo e ao mesmo tempo sentir como estivesse de fora, a assistir.
Lembro-me de ver tanto, mas tanto apoio nas bancadas. Os adeptos do União tinham-se mobilizado. Em peso! Trataram de autocarros, fizeram t-shirts. Trouxeram uma energia especial a que não estávamos muito habituados. Talvez por isso me sentisse num jogo da Champions.
O jogo começou por ser renhido, mas tínhamos uma equipa inspirada.
E eis que finalmente surge uma oportunidade. Uma jogada combinada pelo lado direito, cruzamento para a zona de penálti e o nosso lateral num remate de primeira...
O grito de golo foi uma explosão imensa! Saltaram do banco, das bancadas. Nós, com a alegria a pulsar-nos nas veias, corremos em direção aos nossos que vieram de longe para nos ver vencer. Separava-nos um fosso a lembrar o de Alvalade, com uns 3 metros. Mas era como se o ultrapassássemos, como se estivéssemos abraçados aos nossos. E foi então que a euforia deu lugar ao pânico. No meio dos nossos festejos efusivos a vedação do fosse cedeu e três dos nossos caíram. Gelámos. Não estou certo do que se ouviu, mas foi como se repente o mundo tivesse ficado mudo, sem som por micro segundos que pareceram infindáveis. “Porra! O que acabou de acontecer?” O espaço entre a alegria e a incerteza foi muito pequeno... A incerteza de saber se os nossos estavam bem.
“Calma, calma.” “Está tudo bem!” Está tudo bem!
Os nossos guerreiros levantaram-se. Um deles com um braço deslocado, obrigado a ser substituído, claro. E os outros dois com muitos arranhões e pisaduras que não os impediram de continuar. Um deles em pleno dia de aniversário. Que rica prenda, Zé Valente!
Não sei a que velocidade batiam os nossos corações no meio deste turbilhão de emoções. Mas superámos o susto. Voltámos ao jogo com a garra e união que nos caracterizava. O jogo sorriu-nos! Vencemos! Fizemos história!
Guardo este jogo no coração para o resto da vida!