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EP. 3 - Um (J)Amor Especial!

de Jorge Ferreira - administrador do Sporting Tático

9 de junho de 2020

Recordo tudo como se ainda lá estivesse. 10 de junho de 1995: uma memória fresca, que ainda vagueia na esperança de perdurar aquele ensejo. As pernas, ainda franzinas oscilavam, o sorriso inocente estremecia de ansiedade e os olhos refletiam a inquietação de entrar no Jamor pela primeira vez. O tempo manuseava a minha alma por dentro. Um turbilhão de sensações invadia um sentimento estranho de uma criança inquieta, mas afortunada. Por um lado, avizinhava-se a primeira conquista de uma vida, ainda com poucas histórias Verdes e Brancas para contar. Por outro, a despedida do ídolo de sempre. Talvez o primeiro e único. E, por isso, especial…

Finalmente cheguei! Os raios de sol do belo Jamor uniam as cores e o sentimento de uma enorme multidão com saudades da glória. Tudo se vestia de Verde e Branco e não entrava mais uma alma naquele estádio repleto. Que dia! Que sensação! Que memória, que nunca mais tombará no esquecimento. O primeiro título, a primeira viagem à festa mais bonita do futebol português, com uma despedida saudosa do ídolo de sempre.

O herói fora Iordanov, com dois golos. Oceano levantava o caneco 13 anos depois e as bancadas, em euforia, apregoavam por Figo. Eu… Eu, só olhava para o meu ídolo de sempre, enquanto resgatava cada momento seu que fui plagiando durante uma infância. Ali, naquele ensejo, veio tudo à memória. A forma como tentava multiplicar cada drible, entre as silvas dos campos do senhor José, perdurando as contendas com o filho do Toni da loja. Os chapéus ao Zé da padaria a fantasiar o golo a Preud’homme. A jogada à Maradona em Setúbal, tantas vezes calejada contra conhecidos concorrentes que paravam perto do campo do rio. Aquele remate indefensável ao Benfica, pelos 20 segundos, amiudadamente esmiuçado numa baliza desenhada com alegados postes, substituídos por pneus. E sorria, enquanto o idolatrava em pensamento! Uma alcunha de infância que envergou a pele de um ídolo. Sim, era popular na minha vizindade como “o pequeno Bala”. Descia e galgava a rua de calções pretos curtos, meias listadas a verde e branco e umas chuteiras engraxadas apaixonadamente pela minha Mãe, com aquele preto bem vincado que reluzia nos distraídos. «Lá vem o pequeno Bala!» - verbalizavam os mais enrugados. Com a bola sempre no pé, entre os brados da vizinha e o julgamento atento do Pai, não havia favas, feijões, batatas, couves, tomates ou pencas que amparassem aquele pequeno garoto endiabrado, que só clamava o génio de Balakov.

Todavia, faltava o mais desejado: a camisola! E foi naquele dia que tive a minha primeira camisola. No Jamor! No primeiro título! O Pai daquele pirralho que aflorava a cada instante em que o búlgaro tocava na bola, apoderou-se da primeira barraca fora do estádio e, ainda entre festividades, feirou a camisola do grande Sporting. Sem nome, mas com o 10 bem timbrado nas costas. Os meus lábios sorriam, os olhos brilhavam e a pele do meu eterno ídolo nunca mais me abandonou.

Até hoje! Até sempre!